terça-feira, 10 de janeiro de 2017

32 dias sem escala navegando no Oceano Índico

Estávamos muito ansiosos pelo que viria pela frente, principalmente eu - porque seria minha maior navegação.
Estávamos preparados para 36 dias em 3.710 milhas, sem parada, da Ásia até a África, saindo de Sunda Strait, Indonésia com chegada em Nosy Be em Madagascar.

Nossa viagem não começou aí. 

Fizéramos manutenção e pintura em Lumut-Malasia, de onde iniciamos nossa jornada em 03 de setembro. A intenção inicial era a de deixar a Ásia via norte da ilha de Sumatra. Amigos nossos, dias antes tentaram por esse caminho, mas encontraram correntes muito fortes e vento contra entre 35 e 45 nós impedindo-os de prosseguir. Tiveram que retornar para o estreito e aportar na Tailândia, onde foram muito bem recebidos pelas autoridades, apesar da documentação de saída ser com destino à Madagascar. Tentarão na próxima temporada.

Decidimos por isso seguir para o sul através do Estreito de Málaca. Passando pelo movimentadíssimo canal de Cingapura, sempre atentos com rádio, GPS, AIS e radar, fomos chamados via rádio pela polícia marítima, que logo nos liberou e pudemos prosseguir até a Indonésia onde fizemos uma parada estratégica na ilha Belitong - lugar encantador e paradisíaco com pessoas super solicitas.

Ficamos ali 5 dias esperando o melhor tempo para prosseguir até o estreito de Sunda, entre as grandes ilhas de Java e Sumatra, ainda na Indonésia.

No estreito fomos pernoitar em uma baia próxima a Ilha de Krakatoa, para daí fazer a grande travessia. O filme “Krakatoa, o Inferno de Java” conta a história da grande erupção vulcânica causadora de mais de 36 mil mortes. Com essa decisão acrescentamos 16 dias e 951 milhas até a África

Zarpamos em 19 de setembro.
Mar muito calmo e pouco vento. Cruzamos com alguns navios, e fizemos turnos para o dia todo, para ficar menos desgastante, pois teríamos mais 3700 milhas pela frente.

No terceiro dia o vento aumentou. Ficamos felizes, todos nós gostamos de ver o Kanaloa velejando.

No quarto dia à noite logo após meu turno, meia noite e pouco, ouvimos um barulho muito alto e metálico.

O avô constatou que dois estais de boreste estavam soltos e que logo pela manhã teríamos que começar os trabalhos.

Logo cedo o meu avô já estava no mastro - o mar estava grande. Com muita dificuldade e ajuda de todos, o capitão conseguiu solucionar o problema. No barco tem que estar preparado para tudo, por isso havia material para troca da peça que se rompeu.

Problema resolvido, aliviados, voltamos a velejar dentro do rumo.
Mas no sexto dia, aquele barulho novamente. Não acreditamos, o Kanaloa só tinha rompido aquela peça duas vezes, uma no oceano Pacífico em 2012 e há dois dias atrás.

De novo o meu avô subiu, desta vez uma rosca estava dando trabalho. 

Numa das subidas ele ficou uma hora e quarenta lá em cima. Mas felizmente conseguiu!

E lá vamos nós, a todo pano... Não!!! Aqui a prioridade é chegar com segurança e material em dia e não rápido, forçando material. Então colocamos a mestra no segundo riz (diminuindo a área vélica) e a traquete (uma vela de proa, menor que a genoa).

O mar aumentou depois deste dia e os ventos rondavam 15 a 20 nós com rajadas de até 30. O problema não é o vento forte, mas a direção das ondas que faziam o barco balançar e cabecear ficando muito desconfortável. Uma ou outra onda de vez em quando entrava no cockpit, apesar de todo fechado chegando a molhar a mesa de navegação.
O barco balançou bastante mas nos acostumamos rápido, que assistimos filme quase todos os dias, com direito a pipoca.

Não tivemos mais nenhum grande problema.

Dia 13 de outubro, foi aniversario da minha avó Eliza, e não pense você que o balanço a intimidou na cozinha. Ela fez sua famosa torta. É para poucos comemorar o aniversário no meio do Oceano Índico.

No cabo D’Ambre, já Madagascar as rajadas chegaram a 41,9 nós. O Kanaloa levou bastante agua, mas passamos muito bem o cabo. Quando estávamos chegando em Nosy Be os ventos mudaram e desapareceram novamente, como esperado, pois ficamos atrás de terra, a sotavento.
Foram 32 dias e meio de navegação. Que nunca esquecerei. E ficaria mais 30 tranquilamente.

Agora estamos em Madagascar mas logo partiremos para Africa do Sul, onde esperaremos a próxima estação para cruzar o Oceano Atlântico e voltar onde tudo começou.







5 comentários:

  1. Experiência fantástica! Quero ser o próximo a viver isso na minha vida. BV

    Luciano Silva, MG

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  2. Esse avô é muito guerreiro em subir no mastro duas vx e ficar lá um tempão e vcs todos tb estãode parabens por esse maravilhosa jornada.

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  3. Na Africa tem bons lugares para ancorar, em Richards Bay , em Simons bay e Cape Town,com boa infraestrutura, recursos e povo amigável.Cuidado em Cape Town que tem problemas de segurança, nas ruas, tipo Rio de Janeiro.Fiz a rota Cape Town, Luderitz na Namibia, Ilha Santa Helena, Trindade e Vitoria - ES, todos os 3 com com recursos, segurança e povo amigável.Bons ventos

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  4. bela odisseia, parabens pela bravaura do seu avô. Estou me preparando pra cruzar o atlantico, rumo ao mediterrâneo, e acompanho bastantes essas sagas. Bons ventos e sempre avante.

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