sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Fomos roubados, perrengue! Em Moçambique!

Antes de partir de Madagascar já havíamos decidido que Moçambique seria um país de passagem, e que não faríamos entrada.

Vários sites confiáveis diziam que: além das taxas normais cobradas pelos órgãos reguladores, os próprios oficiais, ainda com a posse do seu passaporte cobram taxas extras e se não as pagar, não os devolvem.

Como os oficiais da África do Sul são cientes desses acontecimentos, eles são muito compreensivos, permitindo a entrada, ficando aguardando a emissão de um novo passaporte em sua embaixada.

Enfim: seguiríamos até Bazaruto – Moçambique, aguardaríamos o bom tempo e partiríamos para Inhaca e daí para África do Sul aproveitando a correnteza, num total de mil e cem milhas.

Em Bazaruto um dia após a nossa chegada, observamos redes de pesca em nossa volta, e com o mar soprando do mar para terra, mais a correnteza, tivemos certeza que a rede (enorme) iria nos pegar. Até porque o Catamaram que estava um pouco a frente, já estava envolvido pela tal rede.
Muitas pessoas na praia gritando e apenas um homem e uma criança, de no máximo dez anos, estavam em uma pequena canoa recolhendo a rede.

Quando a rede nos alcançou, pensamos até em cortá-la, mas logo percebemos que não seria uma boa ideia pois não sabíamos a reação do povo local com tal atitude. Não queríamos nenhum problema naquele país, ainda que a correnteza mais a maré vazante, mais o arrasto provocado pela rede fossem enormes sobre a âncora. Depois de algumas horas, problema resolvido.

Sempre vinham canoas pedindo dinheiro em troca de peixes. Nós não tínhamos dinheiro local - metical, e acabamos por oferecer camisetas, pensando que haveria escambo, assim como em Madagascar. Mas além de não nos oferecerem nada, até aí tudo bem, ainda acharam pouco e foram ríspidos conosco. E nós entendíamos tudo, já que em Moçambique se fala português.

Passados dois dias, o vento aumentou e as ondas subiram. Nessa noite havia muito barulho das ondas no costado, o vento e os cabos batendo no mastro. Quinze para as duas da manhã, meu avô que é muito atento aos sons do barco, ouviu um barulho diferente, mas não achou que seria algo muito importante. Mesmo assim ele foi para o cockpit e logo viu uma pessoa pegando os cabos que ficam na popa. Meu avô logo correu em sua direção, mas o pirata, da plataforma pulou para o bote, e assim que meu avô puxou o cabo que estava interligando o seu bote ao nosso barco, percebeu que já havia sido cortado com um facão, desaparecendo na escuridão, fugindo por entre os baixios que um veleiro não pode passar.

Com muitos xingamentos no momento, eu e minha avó acordamos, e logo percebemos que além dos cabos, ele havia estourado o cadeado do motor e tinha levado também, nosso motorzinho de 5 HP de apenas dois meses de uso.

Ficamos extremamente chateados, e todos os dias após, dormimos trancados e superatentos, pois não sabíamos se voltariam. O que nos deixou um pouco mais tranquilos, foi que nada de grave pessoalmente aconteceu.

Pensamos até em falar com as autoridades, mas logo desistimos da ideia, não queríamos ficar nem um minuto a mais naquele país, pois o que poderíamos esperar de um país com um AK47 na bandeira. É o único país no mundo que tem na bandeira uma arma de fogo.

Ainda chateados, partimos para Inhaca, depois de 8 dias aguardando bom tempo, onde encontramos mais dez barcos reunidos. Num deles, os americanos nos convidaram para uma ceia do Dia de Ação de Graças. Foi quando as tripulações de todos os veleiros ficaram reunidos. Também descobrimos que não fomos os únicos a ser roubados, outros dois haviam também recentemente passado pela experiência em Moçambique e também em Madagascar; de um deles levaram o motor de popa, e do outro por duas vezes invadiram o barco, e os ameaçaram com facas, levando tudo de valor.

Ficamos reunidos em Inhaca por longos 13 dias. Como não tínhamos motor, nem em terra podíamos descer pois, o vento era bem forte. Três argentinos de um dos veleiros sempre traziam ovos, frutas, verduras e legumes para nós. E em um dia nos levaram para terra, onde conseguimos por algum tempo um pouco de internet. Retribuímos os argentinos, com um lanche/jantar e um almoço.
Num desses dias de espera, o vento chegou a 49,9 nós, e ouvimos de outro barco que estava um pouco mais longe que o seu WIND (equipamento que mede a velocidade do vento e direção) chegou a 70 nós! Foi nesse dia que um barco perdeu seu bote para o vento, e foi levado mar afora (o mesmo que fora por duas vezes assaltado).

Fizemos um plano de viagem para África do Sul: sairíamos em direção a Richard’s Bay com a ajuda da correnteza e dos ventos, e quando estivéssemos a meio dia do porto de chegada, pararíamos, aguardando uma baixa passar a nossa proa. Isso na teoria, porque na prática não conseguimos parar -  sem velas o nosso barco estava andando a 5 nós por causa da correnteza, mas deu tudo certo, a baixa se desfez e chegamos em Richard’s Bay, África do Sul.



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