Tínhamos uma janela grande que daria para: saindo de Mossel Bay, Oceano
Índico chegar a Cape Town, Oceano Atlântico.
Durante a travessia os ventos começaram a mudar e a janela a se
fechar.
Assim, mudamos nossa rota para Simon's Town, cerca de 65 milhas
antes.
Algumas milhas da cidade, observamos que o céu estava totalmente
encoberto, e as ondas e ventos aumentando.
Ao cair da noite foi tudo piorando e o nosso medidor de vento não
abaixava de 40 nós.
Começamos a ficar preocupados. Chegar num porto que não conhecemos,
à noite, com tempo bom já é bem difícil. Imagine chegar com tempo ruim.
O veleiro surfava nas ondas que não eram muito altas, mas
provocava uma trajetória mais ou menos sinuosa. Próximo a nós seguia um veleiro
inglês e, assim passamos juntos a um farolete onde as ondas arrebentavam muito
e tinha que ser deixado numa boa distância. Parecia uma regata: de olho no
espaço até o farolete e no veleiro próximo.
Meu avô preferiu ficar no leme durante umas seis ou oito horas
direto.
Logo vimos através de nosso AIS que o barco dos nossos amigos espanhóis
já se encontrava na marina.
O inglês que estava atrás de nós havia feito contato com RESCUE (resgate)
para o auxiliar na entrada da marina.
Chamamos nossos amigos espanhóis no rádio para nos auxiliarem na
chegada e eles não responderam. Achamos que a coisa não deveria estar tão boa
por lá porque em seguida, ainda via AIS, observamos que ele entrara e saíra da
marina. Posteriormente soubemos que foi
por não conseguir manobrar na primeira tentativa porque o vento por lá chegava
a 60 nós.
O vento já havia chegado aos 49.8 nós, para nós, e um quarto
veleiro - um veleiro local - que estava nesse momento encerrando sua volta ao
mundo chegou a ser levado umas duas milhas em direção as pedras, retornando
somente quando o vento “sossegou” um pouco entre 33 e 36 nós.
O mar estava alto e ventava muito, todos nós estávamos nervosos
com a proximidade de terra, com muito vento e como evitar um “strike” dentro da
marina.
Eu perguntei, via rádio, se eles podiam nos dar auxilio, eles logo
responderam que NÃO, e que eu deveria entrar em contato com o RESCUE no canal
71.
Num ato rápido, sem eu consultar o capitão, eu chamei o RESCUE e
pedi auxilio para entrar na marina, já que eles estavam ajudando os outros 3
veleiros.
Via rádio, eles pegaram todos os dados do nosso barco, mas eu não
conseguia entender 100%, devido ao barulho do vento; foi um pouco complicado.
Meu avô continuou no leme seguindo a rota como podia, pois, o
barco chacoalhava muito.
Em um momento meu avô, no AIS, viu dois barcos muito próximos, com
o nome Rescue. Pediu-me para confirmar visualmente. Por bombordo, quando
coloquei a cabeça para fora, uma onda me lavou por inteira, eu fiquei muito
nervosa, literalmente queria rir e chorar. Mas me segurei, afinal não queria
ser mais uma preocupação.
Era uma lancha do RESCUE. Quando olhei para o lado, duas
pessoas estavam em cima do barco, daquele tipo que a gente só vê em filme,
vestidos de vermelho com roupa de mergulho e capacetes; minha avó disse que
eles pediram autorização para subir, e num pulo já estavam no convés.
Eles pediram para abrir toda a capota do barco, e já foram atrás
das defensas e cabos - eles eram muito rápidos.
Como eram do local, logo começaram a indicar os lugares que
deveríamos ir para entrar na marina.
Demos dois giros completos antes de entrar, para eles arrumarem
tudo.
Meu avô no timão e eu e minha avó só observando. Não tinha o que
fazer, eles faziam tudo. Era como ter dois práticos de cais a bordo, com o
diferencial de estar ventando 50 nós.
Logo meu avô conseguiu entrar na marina, ficamos em parte
aliviados, mas ainda tinha que seguir até o pequeno espaço do flutuante e amarrar
o barco.
Quando olhamos para o flutuante havia dez pessoas prontas para
pegar os cabos e ajudar no que fosse preciso. O Rescue já havia convocado o
pessoal. Eram 5 velejadores estrangeiros e 5 locais – Eram 22:40 horas.
O veleiro foi “caranguejando”; isto é: seguindo numa direção, mas
com a proa noutra, encaixando certinho na vaga.
Depois de uns quinze minutos para amarrar o barco: com dez pessoas
no flutuante, dois homens do RESCUE, eu e meus avós e mais uma lancha com
condutor e uma marinheira empurrando nosso barco contra o cais, conseguimos
atracar.
Ficamos amarrados com dez cabos em diferentes posições e inúmeras
defensas. Nosso barco não cabia por inteiro, o que fez os cabos fazerem baru
fortes a noite toda.
Enfim chegamos!!!!
Fomos cumprimentar os rapazes do resgate que nos ajudaram, e na
minha vez eu pedi uma foto (ver foto).
Estávamos ainda tensos, e sem acreditar que não havia acontecido
nenhum arranhão. Realmente essas pessoas são verdadeiros anjos, pois em todos
os momentos nos passaram calma, tranquilidade e segurança.
Aquecidos e satisfeitos, ligamos para a nossa família.
Minha mãe tinha me mandado diversas mensagens querendo meu “waypoint”.
Demos risada, pois não tinha condição de nada naquelas horas que acabaram de se
passar.
Eu tirei fotos e filmei pouco antes do mar estar um verdadeiro
sufoco.
Minha iniciativa valeu 2 estrelinhas e meia, que
meu avô arredondou para 3 estrelinhas. Dez estrelinhas dão direito à famosa torta
de frango com palmito feita por minha avó.
Não foi bem um resgate, mas a assistência valeu e
muito.
Nossos anjos, Josh e Dean!
Por do sol com essa nuvem gigantesca!
Essa nuvem foi escurecendo de uma tal maneira, que começamos a observar melhor ela por bombordo!
E aqui um video com alguns momentos da travessia.