Depois dos 32 dias da travessia sem escala do Oceano Índico chegamos
em Madagascar e ancoramos em uma baía onde há uma pequena marina.
Em pouco tempo encontramos pessoas que falavam português. Eram
nativos de Moçambique, do outro lado do Canal, já no continente africano.
Logo nos arranjaram um taxi, e partimos para fazer a papelada.
Desde que chegamos reparamos que o povo é muito simples e que
muitos sobrevivem graças a minúsculo comércio – uma tábua em cima de dois
caixotes e pequena quantidade de tomates, alho ou cebola para vender. Nas
poucas ruas pavimentadas as “vendinhas” e barzinhos, de tábuas, com teto de
ramos de palmeira são o que mais se encontram. No centro da cidade (“ville”),
aqui, todos falam francês e malagasse, o comércio é mais forte com lojas em
alvenaria, simples mas bem arrumadas.
No supermercado não encontramos muita variedade. Cartões de
crédito não são aceitos, assim a caixa ATM é sempre o primeiro lugar a ser visitado.
O mercado de hortifrutas sempre é muito bom em todos os lugares. A carne, aqui,
é vendida no mercado...e também na rua de terra. É fácil de identificar a carne
– estará sempre coberta de mosquitos. As ruas e o lixo há muito que não veem
garis.
Ficamos três dias ancorados neste local para preparar o barco e completar
combustível – o que não foi uma tarefa tão fácil. Em Nozy Be, onde estávamos
não há posto marítimo, logo teríamos que fazer viagens com o bote até a marina
com galões e da marina pegar um taxi até o posto onde regressaríamos para o
barco.
No dia seguinte saímos pela manhã e fomos pernoitar em uma ilha ao
sul. Muito bonita.
Ficamos encantados com o quanto os baobás são bonitos, grandes e
imponentes. Alguns lêmures numa pequena ilha se alimentavam nas árvores.
Um nativo aproximando-se com sua pequena canoa tentou vender-nos
algumas frutas. Respondemos que não tínhamos dinheiro (“pas d’argent”). Assim
que ele estava partindo oferecemos uma camiseta, já que a dele estava muito
rasgada. Retornou, aceitou, e a seguir apanhou
algumas frutas e entregou-as para nós dizendo é um presente (“cadeaux”).
Logo mais tarde apareceram outro nativo, esposa e criança... e mais
outro e mais outro. Repetíamos sempre “padarjam” e ouvíamos sempre “cadô...cadô”.
Já estávamos preparados para escambo.
Nós oferecíamos camisetas, shorts, bonés e comida.
Dentre os presentes viam-se muitos limões, mangas deliciosas e
muito duráveis, bananas, mamão, ovos de pata e até uma lagosta que ficou
excelente.
Por último, no dia seguinte apareceu um casal e o ritual foi o
mesmo. Já saindo, após as trocas, a esposa não deixou para depois, retirou sua
camiseta, ficando nua da cintura para cima, colocou a nova, que acabara de
ganhar, sorrindo sempre, mostrando sua boca faltando muitos dentes, numa cena
tocante e divertida para nós e, para eles com certeza e se foram.
Foi incrível.
Pessoal super amistoso e que nos cativou. Nâo foi a primeira vez
que fomos abordados. Depois de ver o quanto são simples naquela região, não
custa ajudar, e acabamos sendo ajudados.
Passamos por várias baías nesses dias.
A estação de ciclones ainda não havia chegado mas nessa época
sempre ocorre alguma depressão mais forte que chega até aqui e até mais próxima
à fronteira da África do Sul. Assim, tínhamos que partir.
A próxima travessia seria de 700 milhas e necessitaria de uma boa
janela de tempo.
Entre Madagascar e a África continental há o Canal de Moçambique
que varia de 500 milhas à 200 milhas na sua parte mais estreita.
Próximo a parte mais estreita partimos para oeste, para o
continente africano, de encontro a Corrente de Moçambique que segue para o sul
acrescentando de 1 a 3 nós na velocidade do barco.
Quando temos internet utilizamos o PredictWind e o Windity.
Quando não temos, o que ocorre nas travessias, utilizamos o
Sailmail, usando o Iridium como modem para baixar GRIBs. Também utilizamos o
SSB para receber meteofax, boletins meteorológicos e para NETs.
Via Iridium também fazemos conversação via satélite
ou MSG. A MSG é o meio mais comum de contato com nosso amigo Hugo, hoje na Nova
Zelândia. Hugo, é uma pessoa que acompanha há anos a trajetória dos meus avós e
os auxilia com previsões. Ele nos passa diariamente a previsão de tempo para os
próximos dias buscando websites e modelos diferentes até comunicação de navios
passando pela nossa área.
Temos três relógios iguais e juntos na antepara, marcando
o fuso da Nova Zelândia um, a hora local e a hora do Brasil os outros dois. O
da NZ toca o esperado alarme todos os dias às 18:20 horas, quando trocamos
dados.
Mulheres de Madagascar
Nozy be
Comércio em Nozy Be
Eu e o baobá
Eu e minha avó, na frente de um baobá
Glória do filme "Madagascar" em Madagascar
Escambo com Nativos
Escambo com nativos
Fruto do escambo
Fruto do escambo